Para o consultor internacional de hospitalidade vegana Christian Marranghello, o principal erro de muitos estabelecimentos é imaginar que basta retirar ingredientes de origem animal das receitas.
“Essa abordagem empobrece a experiência. É preciso substituir com criatividade, mantendo sabor e identidade”, alerta. Segundo ele, o segredo está em conhecer bem os vegetais e explorar novas combinações, como proteínas vegetais, leguminosas e grãos.
A sócia do Pop Vegan Food, Monica Buava, acredita que a inclusão de opções veganas traz ganhos em várias frentes. Além de atrair novos clientes, reduz custos operacionais. “Um cliente vegano costuma influenciar a escolha de um grupo inteiro. E, muitas vezes, pratos sem ingredientes de origem animal têm custo mais baixo de produção”, explica.
Monica lembra ainda que a adaptação não precisa ser imediata nem radical. “Bares e restaurantes podem começar com uma ou duas opções fixas e ir ajustando conforme a aceitação do público. O importante é sinalizar que o estabelecimento se preocupa em atender todos os perfis de consumidores.”
Outra vantagem apontada por especialistas é a fidelização. Clientes veganos valorizam profundamente locais que respeitam suas escolhas e tendem a se tornar frequentadores assíduos. Para Christian, o atendimento é parte essencial dessa jornada. “É fundamental que as equipes estejam preparadas, entendam os ingredientes e saibam responder dúvidas com segurança. O cliente percebe quando o cuidado é genuíno.”
Além do aspecto ético e mercadológico, o veganismo está fortemente ligado à sustentabilidade. A redução do uso de ingredientes de origem animal diminui a pegada de carbono e estimula o consumo de alimentos locais e sazonais. Esse ponto tem sido cada vez mais valorizado por um público atento ao impacto ambiental de suas escolhas.
O setor de alimentação fora do lar, inclusive, vive um momento de otimismo. Segundo levantamento da Abrasel, 81% dos empreendedores esperam ter alta no faturamento nos últimos meses do ano em comparação com o mesmo período anterior. Para a maioria (26%), o aumento deve ser de pelo menos 10%.
Apesar da recente pressão da inflação e da crise do metanol, que impactou setembro e reduziu o número de empresas com lucro de 43% para 33%, o setor segue confiante na retomada. Dentro desse cenário, o veganismo surge como uma oportunidade concreta de inovação, diferenciação e atração de novos públicos.
Da mesa à consciência: o novo perfil do cliente
O público vegano e vegetariano é cada vez mais diverso. Inclui jovens preocupados com o meio ambiente, adultos que buscam uma alimentação mais equilibrada e até pessoas com restrições alimentares.
De acordo com a SVB, a faixa de maior crescimento está entre 25 e 40 anos, grupo que também concentra o maior uso de aplicativos de delivery e redes sociais para descobrir novos restaurantes.
Esse comportamento reforça a importância de bares e restaurantes comunicarem de forma clara as opções disponíveis, tanto no cardápio físico quanto online. Fotos, descrições e sinalizações como “100% vegetal” ou “sem ingredientes de origem animal” ajudam o consumidor a se sentir acolhido e seguro na escolha.
Christian ressalta que o veganismo é, sobretudo, sobre experiência e pertencimento. “O segredo para o sucesso é tratar o cliente vegano com a mesma atenção que qualquer outro, criando vínculo duradouro”, afirma.
Para ele, o cuidado vai desde o treinamento da equipe até o uso consciente dos espaços, sem descuidar da qualidade e da apresentação dos pratos.
O futuro da alimentação fora do lar
O crescimento do veganismo no Brasil indica que o setor de alimentação fora do lar está diante de uma grande oportunidade. Mais do que seguir uma tendência, trata-se de acompanhar uma mudança de comportamento que veio para ficar.
Hoje, restaurantes que adotam práticas sustentáveis e cardápios inclusivos se destacam pela capacidade de conectar propósito e prazer à mesa. E, conforme o público se torna mais exigente, a experiência gastronômica passa a envolver muito mais do que sabor: ela reflete valores, identidade e consciência.
