Profissionais de saúde relacionados à área de transplantes em todo o país estão mobilizados neste mês para atividades em torno do Setembro Verde. A data tem ganhado importância crescente por chamar a atenção da população para a necessidade de ampliar a doação de órgãos e tecidos, com o objetivo de reduzir a espera e salvar vidas.
A Bahia é um dos Estados onde há grande déficit nessa área, com uma fila de espera de quase quatro mil pessoas, de acordo com dados oficiais da Sesab (Secretaria da Saúde do Estado), sendo 2.145 pessoas na espera por um rim e 1.667 por córnea, que estão no topo da procura. Nacionalmente, segundo o Ministério da Saúde, a demanda chega a 78 mil pessoas precisando de órgãos e tecidos.
“O Setembro Verde tem o objetivo de fortalecer a cultura de solidariedade nessa área, dar perspectiva de uma vida melhor e possibilitar esperança para quem está na fila por um transplante”, afirma a médica Ana Paula Maia Baptista, responsável pelo programa de transplante do hospital São Rafael e coordenadora da área de Nefrologia dos hospitais São Rafael e Aliança, ambos da Rede D’Or.
Ela explica que um obstáculo para mudar a realidade das filas é a recusa familiar que ainda é muito alta no país e, maior ainda, no Estado, com alguns meses chegando a 71%. “Precisamos reforçar que não existe transplante se não houver doação. Quem é doador, deve avisar à família e as pessoas precisam saber que o sistema de transplantes do Brasil é seguro”.
Atualmente, a maior espera é para transplante de rim e córnea. “Com o envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida, é esperado que haja um maior número de pessoas com doença renal crônica avançada que necessitem de um transplante de rim”, diz.
Em geral, a doação precisa atender a um protocolo, com requisitos bem definidos. “Cada órgão e tecido tem a sua particularidade. Por exemplo, aqui no Estado da Bahia é possível a doação de córnea de pessoas de 2 a 75 anos. Quando a gente vai falar de rim, os critérios são mais estendidos. Já órgãos como fígado e coração têm suas particularidades”, ensina a médica Juliana Caldas, responsável pela CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante) do Hospital São Rafael.
Ela fala que as equipes da área buscam desmistificar a dificuldade das pessoas com a doação. “Doar o que não é mais essencial para você pode mudar a vida de uma outra pessoa. São muitos mitos e tabus que a gente gostaria de desfazer para conseguir mudar a nossa realidade”.
O processo desde o potencial doador até a autorização da família ocorre a partir da identificação de um paciente com possível morte encefálica. “O protocolo é bastante rígido e os hospitais seguem rigorosamente os requisitos definidos. Ao final, se tiver a concordância da família, o órgão será avaliado pelas equipes transplantadoras. É essa equipe que define se um órgão é viável ou não”, acrescenta Juliana.
Ela diz que a lista de espera observa o estado de gravidade dos pacientes. “Alguns pacientes podem ir para a frente por conta de gravidade, mas a fila é única e sigilosa”.
A médica observa que, nas ações específicas com sua equipe, a agenda de trabalho é ininterrupta, com atividades o ano inteiro. São cursos, formações, treinamentos e até rodas de conversas com pacientes e familiares sobre mitos e verdades. Ela informa que esse trabalho permitiu que o Hospital São Rafael se tornasse o que mais contribui atualmente para a fila de córnea entre os hospitais particulares da Bahia.
“O nosso dever é identificar, cuidar, ofertar e respeitar a decisão da família. A gente não quer de forma nenhuma que aquele momento tão doído, tão triste, seja nem um milímetro pior. Temos dados informando que 100% das famílias que doaram seguem doando e que parte das famílias que não doaram se arrependem de não ter doado”.
Serviços dedicados
A Rede D’Or na Bahia tem dois serviços de transplante de rim credenciados nos hospitais São Rafael e Cárdio Pulmonar e dois de transplante de fígado, no São Rafael e Aliança. A nefrologista Ana Paula Baptista explica que, nos últimos anos, foram realizados aproximadamente 350 transplantes nos hospitais da Rede D’Or da Bahía, incluindo renais e de fígado. Dos renais, 245 foram no Hospital São Rafael.
“A unidade está em segundo lugar em número de transplantes renais realizados em 2025, atrás do Hospital Ana Nery, que é o maior serviço público de transplante renal do Estado”.
Para Ana Paula, o sucesso do programa está relacionado à equipe multidisciplinar, que atua desde o primeiro momento na avaliação dos casos que chegam. O grupo inclui médicos, equipe de enfermagem, psicólogo, assistente social e nutricionista. “O cuidado de cada um se soma para oferecer a melhor assistência possível, contribuindo para educar e envolver pacientes e familiares, o que fortalece o compromisso de cada um com a sua saúde e possibilita maior aderência ao tratamento”, diz.